sábado, 23 de janeiro de 2010

Minha bússola

“ 02/01/2011
Sonhar é preciso, mas quando isso vira um modo de vida então se torna absurdo. Planejar sonhar faz parte, mas não posso viver só disso. Sou fã das certezas, de arriscar, louca por aventura e conhecer pessoas novas. Tudo que eu queria era por o pé na estrada só eu e o céu como testemunha, queria viver dos pecados, todos os sete e mais alguns que eu inventaria, desfrutaria da natureza e das minhas aventuras. Seguiria um caminho que nem eu saberia só seguiria em frente, olhar para trás só se fosse preciso. Minha trilha sonora seria o som dos carros e um rock doido no mp4. Faria um novo amor a cada cidade, passaria por perigos, LOUCURAS, EMOÇÕES, eu iria querer voltar para o colo da mamãe muitas vezes, mas meu orgulho seria maior. Quem sabe, eu encontro um cachorro como parceiro? Eu o salvaria ou ele me salvaria? Ah, não interessa seriamos apenas grandes amigos. Finalmente eu conheceria as pessoas só com um olhar e as intimidaria também só com a firmeza dos meus olhos castanhos escuros. Se eu passasse por isso talvez eu conseguiria testar essa tal força e coragem que eu sempre digo que tenho, um pouco de emoção, aventura e depressão, não iria me fazer mal, pois isso que para mim é viver! Peço desculpas às magoas que causarei, agradeço a quem ainda acreditar em mim. Perdão a todos que me amam se um dia não voltar, amo a todos, mas chegou a hora de me encontrar.
P.S. não me procurem não tenho rumo, não irei voltar sem antes conquistar meus objetivos.”.
Essa foi a carta que eu deixei para meus amigos e familiares, quando decidi por o pé na estrada quando completei meus18 anos.
Acho que meu pai se arrependeu bastante de ter me dado um carro e de ter guardado dinheiro para minha faculdade, mas eu precisava sair de lá, fugir das hipocrisias e maldades sem sentido, tinha que entender o que era tudo aquilo, para me forma como gente precisava me lançar na estrada da vida. No começo não foi fácil, fui assaltada, quase fui estuprada, fiquei dois dias sem comer por falta de grana, mas com o tempo a vida foi me ensinando umas manhas, mas até aprender sofri um pouco quis voltar para casa, mas não podia, não até me encontrar, não até descobrir quem realmente era. E eu descobri que eu era mais forte do que pensava e por que não dizer mais esperta do que eu pensava? Me livrei de muita coisa, cai em algumas confesso, conheci pessoas interessantes, e outras que eram apenas canalhas, só não encontrei o cãozinho companheiro que descrevi na carta, mas encontrei alguém que era mais que interessante, o cara que mudou a minha vida. Ele não estava nos meus planos, mas não estava seguindo plano nenhum naquele ponto.
Eu o conheci em uma das minhas andanças, ele me viu e se aproximou, eu só estava enchendo o tanque do meu carro, me disse oi e eu educadamente respondi, mal olhei para o rapaz, perguntou para onde eu ia, respondi que era em direção ao vento, ele disse que também e pediu carona, eu o olhei e tinha os olhos mais negros que eu já vi, pois é, eu perdi a voz e dei carona para o rapaz, conversamos sobre tudo e sobre nada, ele era mais um louco que ouvia meus planos e histórias, e sabe, eu gostei disso. A viagem foi longa e depois de tanto conversarmos ele caiu no sono, não pude deixar de reparar na sua camisa meio aberta, seus cabelos longos balançando com o vento, sua boca pequena, confesso que senti uma certa atração. Chegamos a uma cidadezinha e ele se despediu, perguntei para onde ele ia e ele disse que iria em direção ao vento e sorriu, nunca mais esqueci daquele sorriso.
Três dias depois de dirigir sem para resolvi encostar o carro em uma estrada de terra deserta, tinha uma certa montanha lá perto, resolvi conversa com as estrelas, deitei e meu veio logo na mente aquele cara sentado no banco do meu carro dormindo, não tinha nenhuma grande beleza mais tinha um magnetismo que me impressionava, acabei dormindo pensando nele e como conseqüência sonhei com o nosso reencontro, acordei assusta e sorrindo logo resolvi pegar meu carro e seguir de novo na estrada, algo estava reservado para mim. Eu cheguei em mais uma cidade para encher o tanque do meu carro e ele apareceu sorrindo me pediu carona de novo, eu disse:
-Claro!- e ele entrou em meu carro.
- Para onde você vai? Não vale dizer que é em direção ao vento.
- Não, dessa vez to seguindo outra bússola.
- Ah, e qual é?
- O coração. – e sorriu para mim.
- Estou seguindo essa bússola também, dizem que nos levam a grandes e aventuras e nos proporcionam grandes histórias.
- Estou a fim de descobrir se é verdade.
Depois de mais uma longa conversa descobri que tínhamos os mesmos desejos, mas não os mesmos planos só queríamos fugir de nossos pais, responsabilidade esquecer o futuro que não sabíamos como iria ser, tínhamos um jogo incrível de cartas nas mãos que poderia nos dá um dos prêmios mais cobiçados da vida, mas não ligávamos, pois não era o que queríamos. A noite chegou e ele pediu para parar o carro, perguntei “por que?” E ele disse:
- Apenas pare, quero te mostrar uma coisa.- e me sorriu de novo, senti certo medo afinal era um local deserto, nunca tinha estado lá, mas queria arriscar, estava naquela vida para me arriscar, para ver até onde posso ir.
- Esse é local, pode parar ai.
- Você já esteve aqui?- perguntei.
- Fui criado por essas bandas, minha raízes estão aqui. – de uma forma estanha acreditei, aqueles olhos negros como a noite me hipnotizava, não conseguia dizer não.
O lugar era lindo, dava para ver a cidade toda iluminada, as casinhas pequenas, e o som dos carros misturado com dos grilos, sentamos em uma pedra grande e ficamos olhando a imensidão, estava frio ele me deu sua jaqueta velha, mas quente e com o seu perfume que já esta me agradando.
- Me diga, o que você procura nessas estradas? Não vi um mapa ou um roteiro de viajem...
- Eu estou me procurando.
- Como assim?
- Quero saber que realmente sou, mas para isso sinto que não posso estar perto de meus amigos e familiares, de uma forma estranha eles me moldam a seu modo, não consigo me encontrar perto deles.
- E você acha que é realmente eles estão te moldando?
- Não tenho certeza de nada, eu só quero me encontrar, me sentir viva, nessas estradas eu me sinto assim, meu som, o vento, o carro e a estrada são a família e os amigos que eu sempre quis ter, não me cobram além do básico e não esperam nada de mim.
- Entendo.
- E você, o que irá fazer agora?Já que está em sua cidade natal?
- Eu tinha me encontrado, mas agora to meio perdido.
- Não entendo?
- Avistei uma mulher misteriosa alguns meses atrás, que me prendeu com aqueles olhos negros e um jeito de andar que mostrava uma atitude admirável. Tentei me aproximar, mas tive vergonha, continuei a seguir meu caminho, mas ela apareceu de novo em minha rota, não podia deixar passar, me aproximei e pedi carona, foi uma das melhores viagens que já fiz, atrás daquela mulher misteriosa com uma postura séria, descobri uma garota perdida querendo se encontrar, mas tive que deixa-la, pois tinha um compromisso a cumprir. Pensei nela todos os dias, eu só queria encontra-la outra vez. E agora eu estou com ela no lugar que eu sempre sonhei em estar com a garota dos meus sonhos.Ela esta me contando sua vida e usando minha jaqueta. Acho que isso já não existe só em meus sonhos, o que me resta agora é arriscar. – ele deu uma pausa, deu um breve sorriso, e disse: – Eu tinha me encontrado e agora me perdi, mas agora não me importa mais me encontrar de novo, eu quero me perder em você e se você estiver disposta eu te ajudo a encontrar o seu caminho, mas não me deixe te perde por essas estradas mais uma vez.
Eu o respondi, não com palavras, mas com a atitude de beija-lo, me perdi em seus braços, mas encontrei o meu caminho. Naquele momento encontrei meu parceiro de aventuras, meu parceiro para vida. Nos jogamos de novo no mundo, mas agora estávamos realmente juntos, era eu, ele e a estrada que nos levava a qualquer lugar. Muitos lugares que passamos não sabemos nem ao menos o nome, só sabemos que estivemos e fizemos amor em cada canto do mundo.Estávamos mais do que felizes com aquela vida, parecia que nada pararia a gente, a felicidade era evidente em nossos olhos, corpo e alma. Mas já estava na hora de voltar para casa, pois a final a idade chegou e já não era mais eu, ele e a estrada, ganhamos um bônus, uma menina linda que precisava de estabilidade e de pais responsáveis, ela precisava de tudo que nos fugíamos à adolescência toda. Sabe, não foi tão ruim. Finalmente eu sabia do que era capaz, encontrei alguém que me fez que achar que estar perdido era uma coisa boa, descobri que as coisas de que eu estava fugindo não eram ruins, mas não se comparava a uma vida de andarilho que só segue o vento ou o coração, que sente e vê o sol nascer de vários ângulos, que sabe que lugares certas estrelas brilham mais. Fui feliz, sou feliz e serei mais, pois eu me encontrei e me perdi, segui e parei, magoei e fui magoada, amei e fui amada, ganhei e perdi, sorri e chorei, por vezes somente sobrevivi, por muitos simplesmente vivi e me orgulho ao dizer que morri e morreria outras milhões de vezes se continuar sendo morrer de amor.

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